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domingo, novembro 17, 2013

Covilhã: a ante-estreia de "Holy Popcorn"




Foi ontem que fui assistir à ante-estreia do filme "Holy Popcorn", do realizador espanhol  Ramón de los Santos (que tem ligações afectivas ao concelho da Covilhã), e fiquei muito satisfeito com aquilo que vi. Para além do trabalho exemplar que foi efectuado, com uma invulgar atitude colaborativa por parte de todos os intervenientes, agradou-me a postura positiva que todos demonstraram em defesa da cultura e dos seus princípios básicos: educar, formar e crescer. 

Quanto ao filme e à imaginação daquele realizador, agradou-me bastante a base sobre a qual foi construído o argumento e a intensa reflexão sobre o que é a vida e quais os caminhos a seguir com ela. Intenso!

Muito bom trabalho daquela malta da Covilhã! Aqui fica um desejo imenso de que a cultura vença na Covilhã e que a Maria Zimbro, da minha amiga Ana Bogalheiro e da sua irmã Elisa, continue com a dinâmica enorme na defesa intransigente daquilo que fará com que os nossos filhos cresçam e se façam homens e mulheres completos.

P.S. para a Ana - Parabéns e boa sorte!

sábado, outubro 12, 2013

Os Maias, com a visão de João Botelho

Parece-me que, e ao fim de muito tempo, haverá em Portugal um filme ou série (mesmo que em 4 episódios) que poderá ser um bom instrumento de divulgação do livro "Os Maias", de Eça de Queirós. Digo em Portugal porque no Brasil já foi feito um excelente trabalho de divulgação de "Os Maias", nomeadamente através da Rede Globo.
João Botelho, o mesmo que criou o "Filme do desassossego", a partir dos textos do "Livro do Desassossego", de Bernardo Soares (semi-heterónimo de Fernando Pessoa), meteu mãos à obra e parece que irá voltar a surpreender-nos com o tratamento cinematográfico de um grande livro
Eu estou muito curioso para ver o resultado final deste trabalho e lá terei de me contentar em esperar quase um ano.

domingo, setembro 11, 2011

Vi: Tommy (1975), de Ken Russell


Tommy é um filme, que se baseia na Ópera Rock escrita pelo grupo The Who em 1969, marcadamente crítico da sociedade dos anos 70. Para além desta visão de Ken Russell ser uma sátira à vida consumista dessa época, é ainda um imenso jogo de metáforas com ligação religiosa e social, pretendendo mostrar todos os vícios e crenças que então (e agora?) impregnavam a sociedade. É ainda uma tentativa, aproveitando a ascensão e aparecimento do filme Jesus Christ Superstar (baseado na Ópera Rock de Andrew Lloid Webber), de parodiar alguns dos aspectos mais marcantes deste filme (por exemplo, transforma a via sacra num continuo de maus tratos sobre um deficiente). O que este Tommy nos apresenta é um dedo acusador sobre uma sociedade crente no poder dos mitos recém-chegados, apresentados através de um ritmo rápido e constante (note-se a influência que o Rock tem na divulgação de sentidos) e de um apelo à imagem estranha e, por vezes, surreal. Não é um filme de fácil descodificação (até pela presença de um conjunto de signos e símbolos que emergem vindos de áreas tão distintas como a economia e a religião, a pintura e os direitos humanos, a música e a literatura, etc.), mas o que é estranho tende a entranhar-se mais facilmente e este Tommy não deixa ninguém indiferente pela incrível diferença em apresentar discussões culturais e sociais indispensáveis na época (e ainda hoje!), utilizando para isso um tipo de música que desde sempre esteve ligado ao mundo do álcool e das drogas. Justiça divina? Talvez, o grande triunfo deste filme é conseguir, através da explanação imagética dos problemas, que a crítica feroz a essas mesmas questões seja feita perante a constatação do ridículo.

O filme apresenta uma espécie de circularidade (note-se que o início é o aparecimento, junto ao sol, do pai de Tommy e que o final mostra o filho a assumir a posição de onde se partira para o desenvolvimento da acção) que pretenderá significar, muito sumariamente, o processo biológico do crescimento físico e mental do homem. Este início é surdo, ou melhor, não tem palavras, pois as palavras necessitam de trabalho e de uma comunicação efectiva (não necessária, segundo a intenção comunicativa do realizador, a uma relação reprodutiva). Note-se, ao nível da mera curiosidade, que o pai biológico de Tommy não usa uma única palavra. Não lhe ouvimos a voz e, o que é certo, não precisamos de a ouvir. O que significa esta mudez paterna? Veja-se a tradição religiosa. O pai (Deus) não se ouve. Já o ouviram? Apenas seguimos os seus ensinamentos (exemplares e puros), não necessitando de uma confirmação oral de forma a entendê-lo e a segui-lo. É isso que acontece em Tommy. A figura paterna é a imagem da dedicação e da defesa da família (vai para a guerra para defender o filho que há-de vir). Por lá fica, supostamente, morto. Após a notícia do desaparecimento da figura masculina (associada a Deus?), surgem finalmente as palavras associadas ao nascimento de Tommy. Reconhece-se neste passo toda a simbologia do nascimento de um predestinado. Ele é o foco da atenção. Ele é o salvador. Ele é o desejado.
Tommy é já um rapazinho (com cerca de 5 anos?) quando acontece a morte, perante os seus olhos, do seu pai biológico. Passo a explicar: a mãe e o filho seguem com a vida depois de pensarem que o pai está morto, mas afinal de contas está vivo; no dia em que regressa a casa, a mãe já se encontra a viver com outro homem; Bernie (pai adoptivo), perante a entrada imprevisível do pai no quarto, mata-o; Tommy assiste e entra em choque, começando a viver num mundo só dele onde o pai é o “seu Deus”. A partir deste momento entramos numa espiral de acontecimentos onde se critica o desajuste de tratamento daqueles que são diferentes (deficientes). A evolução é natural e quando damos por nós estamos perante um Tommy crescido (apresenta-se perante nós Roger Daltrey, vocalista do grupo The Who) que inicia a aprendizagem, por vezes, muito cruel da vida (qual via sacra): surge a busca de soluções através de falsos ídolos (a cura é procurada num templo que honra e diviniza Marilyn Monroe, qual deusa que cura os inválidos através do contacto com droga e álcool); aparece o primeiro contacto com as relações sexuais, apresentadas como uma droga capaz de curar; é submetido a uma tortura violenta e é violado pelos próprios familiares; e é ignorado pelos próprios pais. Vivendo num retiro interior, onde contacta com a figura do pai (parecendo em dados momentos o seu refúgio religioso), surge (espantem-se!) o milagre que o transforma no centro do mundo: consegue tornar-se campeão de “pinball”! Este acto faz com que a família, mãe e padrasto, enriqueçam e comecem a ter uma vida desafogada, permitindo também o contacto (crítica às hipóteses de acesso a bens de saúde pública!) da doença de Tommy com os melhores médicos.
No meio desta necessidade de estabilidade familiar, Tommy acorda do sono profundo através de uma violenta queda. A partir daqui, assume uma postura deificada e cria uma seita que pretende a busca de uma harmonia interior e exterior. Como todos os falsos ídolos e falsos profetas (apesar de na índole Tommy demonstrar ter óptimas intenções), dada a exploração que é feita dos crentes, cai por terra a sua intenção de educar mentes e atitudes, através do contacto cego e desinteressado com o “pinball”.
O filme termina com o fechar do círculo. Após o ataque que leva à morte a sua mãe e o seu padrasto, Tommy inicia no meio das chamas o seu caminho de ascensão. Passando por todos os espaços onde inicialmente o pai e a mãe pareciam viver e conviver em profunda harmonia, dá-se o fechamento do círculo e o fim do filme.

Este é, talvez, o filme que apela mais a um entendimento daquilo que é o encontro semiótico entre diversas realidades. Neste caso, precisamos atender à ficção que é tratada no registo cinematográfico e a toda uma cultura ocidental, que se iniciou com a assumpção da religião católica e que se foi desenrolando com a assumpção da "religião" capitalista. Filme tremendo pelo fantástico trabalho musical dos The Who e pela desconcertante visão criativa de Ken Russell. Se querem um filme completo, ei-lo!

P.S. - Vão ter uma surpresa relativamente aos actores que desfilam neste filme.

quinta-feira, abril 28, 2011

Li: O Clube de Cinema, de David Gilmour


Sou um aficionado da leitura. Leio, leio, leio e volto a ler. Claro que sei o que são obras primas e o que são obras menores, mas não tenho por hábito deitar fora nada. Leio e, se me agrada o livro, fico satisfeito. Se o livro me enche as medidas até ao fundo da alma, celebro com uma taça de vinho, mas do bom!
Este pequeno opúsculo autobiográfico, de David Gilmour, foi-me "apresentado" por aquele que é, para mim, a grande referência em termos de cinema na cidade da Guarda - o Victor Afonso. Pessoalmente, ele já me tinha dado conta da existência deste livro, sabendo ele que um dos meus métodos pedagógicos preferidos é o ensino alicerçado no instrumento fílmico. Pois bem, aproveitando o lançamento (que a Editora Pergaminho por certo não lhe agradecerá ) deste livro que ele efectuou no seu blog - O Homem que Sabia Demasiado, dei-me conta da imperiosa necessidade de o ler. Assim o fiz e não fiquei desiludido. Por certo, poderia ser bem mais dedicado ao cinema, mas entendo que a relação (que pode ser representada na seguinte equação:) PAI <-> FILHO <-> (ADOLESCÊNCIA + INICIAÇÃO SEXUAL), que é explorada sob o ponto de vista do pai, é bem mais importante para o autor do que a constatação do génio de Hitchcock ou da capacidade criativa (tipo relógio suiço) de Eastwood.
O livro parte das memórias de um tempo difícil na vida familiar dos intervenientes e apresenta a problemática da escola tradicional, que é vista como desagradável para alguns alunos, e a necessidade da existência de alternativas a este tipo de ensino de forma a cativar os alunos menos dedicados ao estudo; apresenta também a iniciação no mundo das drogas e no mundo sexual; apresenta ainda a difícil relação entre os pais e os filhos num mundo em que o emprego consome quase todo o tempo. Desta forma, um pai (David Gilmour) desempregado vai contactar de perto com o desnorte do filho e, numa jogada muito arriscada, decidi acompanhá-lo numa aventura que vai passar pelas mais diversas dificuldades, tanto ao nível do relacionamento entre ambos como ao nível do interesse que os filmes em análise despertam no filho.
A selecção de filmes é vasta e, confesso, muito desconhecida pela minha parte, mas nota-se que o autor pretendeu dar ao filho uma espécie de "rede de salvação significativa", apresentando-lhe sempre filmes com um fundo moral imenso. Claro que lhe deu também uma educação fortíssima em termos de crítica e metodologias cinematográficas (pois ele é um escritor televisivo responsável por alguns documentários e outros programas, penso eu!), mas a grande vitória desta estratégia quase explosiva foi o regresso do Jesse aos livros e ao estudo.
A história é agradável de seguir, a escrita é simples e clara, os temas são extremamente actuais e os valores, que vão sendo expostos, são essenciais.
Um livro a ler e a guardar!