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segunda-feira, outubro 28, 2013

Li: "Diz-me quem sou", de Julia Navarro


É um romance imenso, a começar na quantidade de páginas, e que tem como principal valia o conjunto de dados sobre o século XX político e social, assim como a forma corajosa e (parece-me!) certeira como faz a análise às ideologias que têm controlado o mundo desde a 1.ª Grande Guerra.
É um bom romance, daqueles que servem para conseguirmos relaxar a mente e aprender um pouco de história universal. Confesso-me culpado, pois gosto dos romances desta jornalista espanhola.
A história deste romance acompanha a vida de dois personagens: Guilherme e Amélia. O primeiro é o protótipo do jovem de trinta anos que trabalha, precariamente, para um jornal online que lhe vai pagando uma miséria para ele escrever análises literárias e outros pequenas apreciações culturais. A segunda, Amélia, é a pesquisa do primeiro. Confusos? Espero que sim, pois se não estivessem eu não poderia explicar mais nada. Guilherme é contratado por uma tia para escrever a biografia de uma avó que está enterrada num silêncio sepulcral. Porque é que todos se recusam a falar dela e a perceber quem era? Esta é a grande questão do romance. Guilherme segue então várias pistas para perceber que é Amélia e quais foram os seus passos, vindo a encontrar-se enredado numa investigação que toca bem de perto os grandes conflitos bélicos (Guerra Civil de Espanha e 2.ª Grande Guerra Mundial), os regimes autoritários de Hitler e Mussolini, as ilusões da revolução comunista de Estaline e a queda do Muro de Berlim.
Mas quem foi esta Amélia que tantas viagens obrigou Guilherme a dar? Amélia era uma jovem filha de burgueses espanhóis que casou e teve um filho, tendo, dada a ilusão dos verdes anos, abandonado marido e filho para fazer a revolução e seguir um amante. E aqui começa a viagem que culminará de forma surpreendente.
Gostei do romance. Considero que é uma boa lição de história política e social sobre a Europa do século XX e uma boa introdução ao estudo do papel do comunismo (ideologia) enquanto oposição aos regimes ditatoriais e enquanto método de governação. As personagens são muito interessantes e a narração surge num formato polifónico, onde existem várias vozes que vão trazendo o conhecimento ao investigador e ao leitor.
Editado pela Bertrand Editora, este romance merecia apenas um pouco mais de consideração por parte da editora e da revisora de texto. São centenas as gralhas e as incorrecções linguísticas que encontramos ao longo da cerca de 1100 páginas. Penso que os leitores (compradores) mereciam maior atenção por parte deste editor, mas compreendo que a estas grandes editoras o que interessa não são os leitores e sim o dinheiro deles.    

segunda-feira, abril 22, 2013

Li: ”Um Homem de Partes”, de David Lodge


Não me decidi a avançar para a leitura deste livro por saber que ele tratava de Wells, pois não fazia a mínima ideia de que era um romance biográfico, mas surpreendeu-me muito pela positiva. Foi com um incentivo muito ocasional que comecei a ler romances de David Lodge, penso que em 2005 ou 2006. Daí para aqui, lá tenho vindo a descobrir a sua obra, mas de forma muito desligada, ou seja, lendo à medida que posso comprar um ou outro livro. Desta feita, aproveitando uma boa promoção e uma altura em que havia uns trocos disponíveis (situações cada vez mais improváveis), lá me aventurei nesta aventura bastante interessante. 

Abri o livro e fiquei admirado, visto que não esperava uma tão directa alusão a um qualquer personagem “real”. De H. G. Wells conheço os grandes sucessos: “A Guerra dos Mundos” e “A Ilha do Doutor Moreau”, e, depois desta leitura, compreendo o porquê do seu relativo apagamento: uma vida dificilmente tida como moralmente apresentável. 

Abrindo no período final da vida de Wells, o romance de David Lodge é construído de forma analéptica e, nesta estratégia narrativa, evolui até voltar ao ponto de partida que representa o final do romance. A construção do romance é diversa e condensa em si diferentes vozes narrativas, optando o autor por uma curiosa e bem urdida estratégia de misturar a voz de um narrador heterodiegético (presente em todo o romance) com a própria voz do narrador nas várias entrevistas imaginárias (esquizofrenia?) que servem de escape momentâneo à grande analepse, servindo como escapes explicativos de comportamentos ou de decisões. Outra das vozes (múltiplas vozes) é a que sobressai dos registos epistolares que servem de argumento para a estratégia de fuga à ficcionalidade por parte do romancista, que oferece aos seus leitores uma espécie de pista que os leve a olhar para este romance como se se tratasse de uma biografia. 

Os temas são vários e inserem-se na leitura e análise das várias obras da personagem principal. Há, no entanto, uma especial atenção aos relacionamentos sexuais e amorosos que chocaram o Reino Unido e a puritana sociedade do início do séc. XX. Este facto é largamente associado ao tema da batalha que se gerava naqueles anos em relação à ascensão social da mulher e à visão que Wells tinha da sociedade ideal, onde a mulher tinha as rédeas da sua própria vida. Socialista utópico, a visão que tinha do mundo é um dos grandes valores que este romance nos traz e que, no meu caso, me obrigará a uma leitura das suas obras mais interventivas. 

David Lodge consegue construir um romance atractivo e extremamente informativo que terá o condão de chamar o leitor para a redescoberta de H. G Wells. Mas, como é óbvio, esta é só a minha modesta opinião.